quinta-feira, 2 de julho de 2009

Padre Antônio Luiz Dias


Padre Antônio Luiz Dias

Padre Antônio Luiz Dias é sem dúvida, uma das grandes figuras do velho Araranguá a ser colocado num pedestal ao menos igual ao do Coronel João Fernandes de Souza. Padre bom, desprendido, zeloso, interessado não só pelo bem espiritual, mas também físico e social do rebanho espalhado por todo o sertão de Araranguá. Não tinha horas para atender os doentes e levar-lhes os confortos espirituais nos mais remotos rincões da costa da serra.
Mantinha dois animais muito bem tratados, para isto. Quase sempre um sacristão o acompanhava, mas não temia embrenhar-se sozinho pelas picadas das florestas, mesmo à noite, em épocas de intenso banditismo. (No mês de fevereiro de 1924, houve mais de trinta mortes). Nunca cobrou pelas funções sacerdotais. O povo trazia-lhe com carinho o necessário para seu sustento. Eram carradas de lenha, de milho para os cavalos, eram aves e animais. O padre desfazia-se do que não necessitava em favor dos mais carentes. Gostava de dar remédios de ervas, especialmente contra a epidemia mais comum que era a infestação geral de lombrigas. Mandava vir o óleo vermífugo em latas. Reunia a meninada que vinha à igreja e ia dando uma colher do santo óleo a cada um. Um homem bom o padre! Sua casa sempre estava aberta de dia. De noite era só chamar.
Eram celebres pela qualidade seu cavalo e uma mulinha marchadeira. Um dia uns malvados roubaram os animais. Mas o povo andou procurando e acabou achando.
Entre outras atividades, Araranguá deve-lhe a primeira luz elétrica. De inicio tentou com motores a óleo, na Barranca. Não deu bom resultado. Com parêntese outros constituiu uma sociedade. Aí foi até o Meleiro, onde colocou uma hidráulica com turbina e gerador. Não hesitou em pedir emprestadas grandes quantias em dinheiro, conscienciosamente aplicadas e depois devolvido. E eis a usina e extensa rede prontas. Araranguá entra na idade moderna.
Para sentir-lhe o caráter e a maneira de ser, só uma entre as mil anedotas, algumas narradas neste livro, como uma contada pelo Artur Bertoncini: um dia uns integralistas comentaram que o padre era contra o integralismo. Pois eu disse que iria mostrar que não era tanto assim. “Padre Antonio, permita que o andor da procissão seja carregado por nós integralistas, uniformizados de camisa verde?” “Vai ficar bonito!”, comentou. E carregamos o andor.
Padre Antônio já velhinho, foi vitima de ingratidão por parte de alguns araranguaenses. Um abaixo-assinado de umas cem assinaturas foi enviado ao Bispo D. Joaquim, pedindo sua retirada. Ao saber disto, outro abaixo-assinado, agora com mais de mil assinaturas, foi enviado ao Bispo, pedindo para que ficasse. Mas o Bispo foi inflexível. Já ordenara que o padre se transferisse para Camboriú. E para lá foi dizendo: “Que Deus pague aos que me quiseram bem e também aos que não me quiseram”. Diz-se que Deus pagou. As cabeças do primeiro abaixo-assinado, pura coincidência ou não, foram logo morrendo, empobrecendo, adoecendo ou tendo problemas graves na família.
O Padre Antônio ficou gravado na memória de uma geração. A história lhe deve gratidão. Ele morreu no cumprimento do dever sacerdotal, pobre, longe do povo que servira com tanta dedicação.



DALL’ALBA, João Leonir. Histórias do Grande Araranguá. Araranguá; Gráfica Orion, 1997. (Pág. 551,552)

Anexo Foto do Arquivo Histórico de Araranguá

Nenhum comentário:

Postar um comentário